Advogado gaúcho presta atendimento em Libras à comunidade
surda.
Conforme Curtis, atendimento em jurídico em LIBRAS é
pioneiro no Estado.
MARCO QUINTANA/JC .
Gabriela Porto Alegre
Segundo o censo do IBGE 2010, cerca de 9,7 milhões de
brasileiros possuem deficiência auditiva, o que representa 5,1% da população.
Desse total, 2 milhões possuem deficiência auditiva severa - 1,7 milhão têm
grande dificuldade para ouvir e 344,2 mil são surdos. No Rio Grande do Sul,
estima-se que mais de 617 mil pessoas tenham alguma deficiência auditiva. Porto
Alegre está no topo das cidades do Estado com o maior número de surdos (62
mil), seguida por Caxias do Sul (20 mil) e Pelotas (17 mil). Pensando nisso, o
advogado Jorge Curtis criou o projeto com atendimento especializado em Língua
Brasileira de Sinais (Libras). Em entrevista ao Jornal da Lei, Curtis explicou
como surgiu a iniciativa "Advogado em Libras", pioneira no Estado, e
como são realizados os atendimentos.
Jornal da Lei - Como surgiu o interesse por aprender Libras
e realizar atendimentos especializados para a comunidade com deficiência
auditiva?
Jorge Curtis - Tenho dois tios, por parte de pai, que são
surdos. Desde pequeno, sempre me comuniquei por sinais com eles, mas eram
sinais bem caseiros. Conforme fui crescendo, fui notando a dificuldade que eles
tinham para acessar lugares importantes, então passei a acompanhá-los em
hospitais, lojas, bancos com a ideia de auxiliá-los nesses atendimentos que
ainda são precários para a comunidade surda. A Libras evoluiu muito. É a
primeira língua para os surdos, sendo o português a segunda. Notei que eles
tinham uma dificuldade extrema em escrever, em se comunicar e, por causa dos
meus tios, fui aprendendo, estudando para me aperfeiçoar e falar bem com eles.
Um dia, um vizinho que também era surdo me pediu ajuda. Lembro que ele chegou a
tirar uma foto e publicar no Facebook com a legenda: "Esse é o meu
advogado que atende em Libras". Desde então, começou a vir muita gente da
comunidade surda procurando atendimento. A partir disso, me dei conta do quanto
era frágil esse atendimento e o quanto eles são carentes disso. Aqui no escritório,
eles sempre trazem uma demanda de que ninguém os escuta, que para ir ao médico
é difícil, que para ir a uma delegacia é pior ainda. Uma das coisas mais
tristes que eu já vi nesse sentido foi uma senhora que trouxe a filha, de 30
anos, e ela nunca tinha ido ao médico porque ninguém a entendia. O projeto
Advogado em Libras, no entanto, surgiu há pouco mais de três anos. Por atender
surdos que são amigos, comecei a tirar dúvidas deles sobre processos. Antes era
uma dificuldade, porque eles iam ao escritório e precisavam de um tradutor
intérprete, e a comunicação acabava sendo "terceirizada". Os surdos
têm uma cultura de desconfiança, então em alguns casos eles não se sentiam bem
em ter que compartilhar suas demandas com os intérpretes para que fossem repassadas
aos advogados. Quando disse que me comunicava em libras, isso se espalhou.
JL - Quais os tipos de atendimentos jurídicos que o
escritório presta?
Curtis - Fazemos questões de Trabalho, Cível, Família e
inventários. Mas também busco me adaptar à demanda jurídica deles, que é
Direito do Consumidor, por exemplo. Com a reforma trabalhista tivemos bastante
procura e, agora, estamos também com bastante demanda na área de família,
divórcio, pensão e benefícios.
JL - Como o senhor avalia a inclusão na área do Direito?
Curtis - É uma coisa triste, porque se criam várias leis de
acessibilidade, de inclusão, mas não se executa. Digo isso principalmente com
relação aos órgãos públicos do sistema de Justiça, que deveriam ter
profissionais capacitados para esse atendimento e não têm, ou, se têm, são
poucos. Depois, claro, tem toda a questão dos hospitais, das delegacias e dos
bancos que não contam com intérpretes ou tradutores para fazer esse
atendimento. É muito triste. Falta acessibilidade, falta carinho e atenção com
os surdos.
JL - Como o senhor se sente podendo contribuir?
Curtis - O Direito é uma ciência jurídica e social, então
esse é o lado mais social que podemos praticar. É um prazer poder estar
prestando essa ajuda, esse auxílio, porque somos apenas uma ponte de ligação
para solucionar as demandas dessa comunidade. O lado social do Direito é a
parte mais prazerosa e fascinante da profissão, porque nos dá a oportunidade de
ajudar alguém a conhecer direitos que não sabia que tinha.
Por Márcia R Cianfa
Fonte : jornaldocomercio.com
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