Guias-intérpretes 'narram' gol de Philippe Coutinho para torcedor surdo-cego em SP; veja vídeo


Sem enxergar, ouvir e falar, Carlos Junior, de 31 anos, sentiu em seu corpo, em tempo real, os gols de Philippe Coutinho e Neymar, na primeira vitória do Brasil na Copa do Mundo, na manhã desta sexta-feira (22).

Apaixonado por futebol e são-paulino fanático, o torcedor teve o jogo narrado por amigos guias-intérpretes em Osasco, na Grande São Paulo. A “transmissão” foi filmada e alguns trechos publicados nas redes sociais após o jogo (assista acima).

Em poucos minutos, a alegria de Carlos, que celebra o gol tocando um tamborzinho, já havia viralizado.

No vídeo, o intérprete Vinícius Alves desenha nas costas de Carlos o número do jogador que detém a posse da bola e a qual seleção o atleta pertence - elementos da comunicação háptica -, enquanto o guia-intérprete Renato Rodrigues faz a parte da guia-interpretação.

Por meio da língua de sinais tátil, todas as jogadas e emoções são descritas sobre um campo de futebol de madeira, revestido com folha de EVA e pintado com tinta alto relevo - feito pelos profissionais especialmente para Carlos.

"O campo dá uma noção de espaçamento, e intensidade do jogo. Se a bola já ultrapassou o meio-campo, se o jogador está atacando bastante, se está correndo mais para a lateral", explica o guia-intérprete Renato Rodrigues.

Amigo de Carlos há mais de dez anos, Rodrigues conta que o grupo se reuniu na casa de Hélio Fonseca, também guia-intérprete, para possibilitar que Carlinhos, como o rapaz é carinhosamente chamado, acompanhasse a partida.

“A gente quer que ele sinta a emoção que milhões de brasileiros sentem”, afirma o guia. Os profissionais costumam auxiliar Carlinhos em viagens, visitas a museus e até salto de paraquedas - presente dado por eles ao rapaz.

Foi a primeira vez, porém, que divulgaram nas redes a narração de uma partida de futebol. O propósito da postagem era motivacional, mas Rodrigues revela que eles não esperavam a repercussão que as imagens e, por tabela, a mensagem, em tão pouco tempo, alcançaram.





“Teve uma comoção por conta do final do jogo e acabamos postando. Não pensávamos nisso. É legal porque tem tanta gente que reclama da vida. O cara não enxerga nada, não escuta nada, não fala e estava lá feliz da vida em sentir a narração do jogo."

De acordo com o guia, Carlinhos nasceu surdo e, aos 17 anos, começou a perder gradativamente a visão por conta da síndrome de Usher - doença de origem genética que afeta a audição e a visão.

“Ele sabia a língua de sinais, mas com a perda visual começou a receber uma sinalização mais próxima dele. Fomos adaptando a sinalização na mão dele”, conta Rodrigues.

A memória visual de Carlinhos guarda atletas da seleção antigos. “Ele lembra muito mais do Robinho, por exemplo, do que o Neymar, jogadores de quando ele tinha mais resíduo visual. Ele não viu o Neymar jogar", aponta Rodrigues.

O grande ídolo do torcedor é o ex-goleiro do São Paulo, e atual técnico do Fortaleza: "Ele sonha em conhecer o Rogério Ceni", revela o guia.

Ao final da partida, Renato traduz as reações dos jogadores da seleção brasileira e da Costa Rica.

“Na hora que acaba, eu descrevo o choro do Neymar. Eu coloco as duas mãos no rosto e falo que o Neymar está de joelho, os jogadores vão abraça-lo. Descrevo a emoção do Neymar, conta que ele está emocionado, está sendo muito pressionado. Também explico que os jogadores da Costa Rica estão com a mão na cintura, tristes por terem perdido o jogo."

Por: João Vitor 

Fonte:G1

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