Review: FIFA 19
Pode parecer estranho, mas o primeiro momento em que FIFA 19
começou a se distanciar de seu antecessor veio de uma situação nada
impressionante no futebol. Foi quando um defensor, controlado pela inteligência
artificial e sem nenhuma ação minha, esticou a perna para interceptar um
cruzamento. A animação se repetiu em outras partidas, algumas vezes gerando
aqueles bate-rebates de bola feios, mas que estão lá, em qualquer jogo real -
do campinho de terra ao gramado do Santiago Bernabéu.
Ao passo em que aumentaram as rebatidas e os gols horrorosos
de rebote e bola sem dono na área, aumentou também o jogo bonito. Nos primeiros
capítulos do modo história "A Jornada", vi o uruguaio Edinson Cavani
arriscar uma bicicleta na grande área - um lance que, em um ano de incontáveis
partidas em FIFA 18, jamais vi acontecer. Em tempos de aquisição da licença da
Champions League, vai ver foi influência daquele golaço de Cristiano Ronaldo.
Acredito que ambas as situações servem para exemplificar
como FIFA 19 decidiu apostar na imprevisibilidade, um dos fatores mais legais
do futebol, no rol de ajustes finos que a EA Sports sempre costuma fazer em seu
jogo anual para combater o sempre presente medo da estagnação. Afinal, o jogo
está no topo de seu gênero há quase uma década, e não parece dar sinais de que
vai sair de lá tão cedo. Mas será que esses ajustes finos já são o bastante?
Já que estamos falando de botes,
trombadas e interceptações, a primeira mudança visível na jogabilidade do novo
FIFA se dá exatamente na defesa e em sua inteligência artificial, tão criticada
na versão do ano passado. É inegável que o jogar o game continua como um
exercício contínuo de consciência na hora de ocupar os espaços do campo, mas
dessa vez o computador mais ajuda do que atrapalha.
O comportamento automático de
buscar as interceptações de passes e lançamentos é uma adição bem-vinda ao
sistema defensivo de FIFA, que promete ser ainda mais testado com outra
novidade alardeada pela EA: o sistema de Toque Ativo, que permite, basicamente,
uma série de domínios de bola que facilitam ainda mais aos atacantes se livrar
da marcação.
Outra mecânica inédita e ligada
ao contato com a bola é a Finalização Calibrada, uma opção de apertar o botão
de chute no momento exato em que o pé do jogador encosta na pelota. Caso você
acerte, o arremate ganha um bônus de precisão e força, mas a janela de acerto é
muito pequena e o erro desperdiça completamente a finalização.
O novo chute é bem vindo, mas é
completamente opcional e só deve fazer mesmo a diferença entre os jogadores
mais dedicados (e entre a comunidade competitiva).
Mais opções
Fora de campo, o destaque
principal não poderia ser outro. Com a inclusão da Champions League, mais
prestigiada competição de clubes do mundo, FIFA traz para seu complexo
quebra-cabeças de licenciamento a última peça que faltava - e de lambuja
enfraquece ainda mais o rival Pro Evolution Soccer, que deteve a exclusividade
do torneio por uma década.
Na construção de sua dinastia do futebol nos videogames,
FIFA conseguiu arrebatar jogadores com seu gameplay, mas é inegável que, para
mantê-los, foi fundamental recriar a atmosfera do mundo da bola o máximo
possível. Um enorme componente se encontra na simulação da identidade visual
dos campeonatos, como a Premier League inglesa e a Liga espanhola.
Por isso, a chegada da Champions é uma conquista e tanto.
Não à toa, FIFA 19 faz questão de mostrá-la, como quem levanta um troféu, desde
os momentos iniciais: a primeira partida, ao iniciar o jogo pela primeira vez,
é justamente a final do torneio europeu, e vira uma opção destacada dentro do
modo Kick-Off, uma central que reúne todos os tipos de partida avulsa.
O modo Kick-Off, inclusive, é uma das apostas para tentar
adicionar um pouco mais de “tempero” às disputas com amigos. Além de partidas
tradicionais, há modos como o Sobrevivência, em que, no melhor estilo battle
royale, o time perde um jogador ao marcar um gol. Outros modos também incluem
regras diferentes para marcação de gols, ou até mesmo um modo em que não há
nenhum tipo de regra.
A Jornada
A Champions League também é o que
norteia o capítulo final do modo história “A Jornada”, agora bombado com um
sistema que permite ao jogador escolher entre três personagens: o já conhecido
Alex Hunter, sua irmã, Kim Hunter, e seu melhor amigo Danny Williams - estes
dois últimos, alçados agora a condição de protagonistas.
A possibilidade de poder trocar os personagens ao longo do
modo história (ainda que exista um “caminho recomendado” pela EA, que sugere
quando acompanhar cada um do trio) é o que salva a terceira e última temporada
de “A Jornada” de ser um fracasso completo, já que o arco de Alex Hunter é de
longe a pior parte dele.
Sua história, que começou em FIFA 17, foi retratada como a
clássica saga de ascensão e superação de qualquer drama esportivo, com
percalços criativos ao longo do caminho, como sua temporada jogando nos Estados
Unidos. O último ano coloca Hunter já no ápice de sua carreira,
recém-contratado pelo Real Madrid, maior campeão da história da Champions
League.
Para uma história que soube mostrar com criatividade a
ascensão de um jovem no mundo da bola, A Jornada não sabe o que fazer com seu
principal herói quando ele finalmente chega ao topo. A maior parte da história
de Hunter gira em torno de decisões corporativas bobas ao redor de uma “marca”
para se tornar uma “estrela global” do calibre de Cristiano Ronaldo e Messi.
Curiosamente, um dos maiores avisos dados a Hunter dentro da
história é justamente o de que sua vida de popstar estaria atrapalhando seu
desempenho como atleta, e a trama peca justamente em dar mais foco ao lado
popstar do personagem em detrimento do lado jogador. Felizmente, Williams e Kim
Hunter, cada um com seus dramas particulares, possuem arcos muito mais
interessantes (que prefiro não contar aqui para não dar spoilers), resgatando
essa primeira história de “A Jornada”.
Por fim, o modo Ultimate Team, o
maior responsável por manter a comunidade fiel a FIFA, recebeu melhorias
pontuais com o Modo Division Rivals balanceia melhor os níveis de cada jogador,
permitindo que você jogue com pessoas de habilidade similar a sua. A Weekend
League, reservada à elite dos jogadores de FIFA, também se tornou menos penosa,
com uma exigência menor de partidas.
Na melhor das tradições de nosso
país atualmente, o futebol brasileiro é responsável por inverter a situação
entre FIFA e PES no quesito das licenças. O game da EA não tem a licença do
Campeonato Brasileiro e viu o número de clubes exclusivos aumentar no rival da
Konami, já que São Paulo e Palmeiras se uniram a Flamengo, Corinthians e Vasco.
O futebol brasileiro, com todas
as suas dificuldades de licenciamento, já era tratado com descaso pelo game da
EA Sports há alguns anos e, agora, isso fica ainda mais evidente, com a
ausência dos cinco clubes de maior torcida do país em FIFA.
Some-se isso a dificuldade
burocrática de se negociar direitos de imagem individualmente com jogadores (e
não com entidades de jogadores, como ocorre em outros países), e o resultado é
o futebol brasileiro jogado de lado, uma realidade alternativa e desconectada
dos campeonatos mais badalados do futebol mundial. O mundo do FIFA é aquele em
que os jogadores brasileiros mais famosos, como Neymar, ganham destaque
aparecendo em trailers e cutscenes, mas suas raízes são esquecidas.
O mais bizarro é que, ao longo da
construção de sua dinastia, FIFA soube recriar o ambiente e a cultura do
futebol de maneira que, hoje em dia, não aparecer no título da EA faz mais mal
ao clube ou campeonato do que ao próprio game. Fora de FIFA, os clubes
brasileiros têm mais a perder - e a EA, sabendo disso, nem precisa fazer
esforços para reconquistá-los.
Ainda o rei
Com FIFA 19, vêm conquistas
importantes, como a Champions League, mas a sensação geral é de que a EA Sports
simplesmente não tem mais para onde ir em quesitos de inovação, o que resulta
em mudanças pontuais no gameplay e adição de modos que, apesar de bem-vindas,
não são inclusões que fazem tanta diferença em um quadro geral.
FIFA 19 parece mostrar os
primeiros sinais de uma acomodação na liderança - e, vale lembrar, essa
situação só não veio antes graças a criatividade dos desenvolvedores da EA.
Entretanto, este ainda é o rei dos jogos de futebol, e não deve perder seu
lugar no trono tão cedo.
FIFA 19 está disponível para
PlayStation 4, Xbox One, PC, Nintendo Switch, PlayStation 3 e Xbox 360. O jogo
foi testado em um PlayStation 4 Pro. Clique no nome das plataformas para ver o
preço do jogo em sua versão digital.
Por: Luiz Felipe
Fonte:theenemy
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